
Ser uma das escritoras mais respeitadas do país é apenas uma das faces dessa senhora com alma de menina. Lygia Bojunga nasceu no interior do Rio Grande do Sul, mais especificamente em Pelotas, mas seu trabalho hoje fala 19 línguas. Através da Literatura ultrapassou fronteiras, quebrou barreiras, burlou preconceitos, uniu lugares e pessoas. Assim essa escritora, uma mulher faminta por letras, como se descreve, escreveu a sua história, o destino de uma mulher que encontrou na Literatura infanto-juvenil uma forma de sonhar.
É completa, reúne a arte teatral a sua habilidade de escritora, emociona, toca profundamente... E é isso que desejo a você, leitor, que seja tocado pela magia das palavras, penetrando os mundos, encontrando o seu próprio mundo ... É como fundir-se e encontrar-se novo, revelador.
Livro – a troca
Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça. Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.
Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que – no meu jeito de ver as coisas – é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
Mas, como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar – uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.
(Mensagem de Lygia Bojunga para o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, traduzida e divulgada nos 64 países membros do IBBY).
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