sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Enigmático Machado de Assis

Enigmático Machado de Assis
           
            Quando li Dom Casmurro no Ensino Médio (há algumas décadas...), minha professora de Literatura fez o tradicional julgamento de Capitu. A maior parte da turma a considerava inocente (inclusive a professora) e um grupo menor defendia sua culpa. Eu li e reli, adolescente sonhadora, achava que talvez tivesse sido desatenta na leitura e havia “pulado” algum fragmento em que Capitu houvesse traído Bentinho. Mas Capitu sempre se mostrava carinhosa com seu marido! Talvez, o olhar de Capitu para o corpo do finado Escobar, porém, esse era amigo da família... Havia alguma coisa entre eles? Não há como saber, apenas teorizar.
   Anos depois, já no Curso de Letras, li Dom Casmurro de novo. Dessa vez, o tom foi outro, com uma análise mais madura, concluí, poucos são os escritores que conseguem realmente transformar um personagem de uma obra literária em tema de discussão por vários e vários anos. Mais precisamente, para a posteridade. Com o romance Dom Casmurro, Machado de Assis criou uma das questões mais misteriosas da literatura: enfim, Capitu traiu ou não traiu Bentinho?
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Não se sabe. E nunca se saberá, já que a história é contada através dos olhos de um marido excessivamente ciumento. Machado de Assis não deixou pontas soltas em sua misteriosa história. Mas deixou muitas dúvidas e incertezas. Todas as situações e personagens são apresentados de forma dúbia, para que, quando fechássemos o livro, nos perguntássemos “E agora? Como vou saber?”. Até mesmo a, talvez, maior prova do adultério de Capitu, a  extrema semelhança de Ezequiel, o filho de Bentinho, com seu amigo Escobar, possui uma dubiedade que não permite a confirmação de sua autenticidade.
São vários os exemplos em que Assis, propositadamente, coloca essa dúvida em nossa cabeça, querido aluno. Sempre há uma sugestão, nunca a confirmação. O autor tornou uma história tão simples em algo inovador, mas também perturbador e angustiante.
             Esse clima de incerteza foi construído com maestria e no fim das contas parece nos dizer que haver ou não traição é o que menos importa: tudo não passa de um bom pretexto (pré-texto) para radiografar as relações humanas e o interior de cada indivíduo.
            Eis a minha dica para esse mês: DOM CASMURRO e penso assim como escreveu Ítalo Calvino "Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos".

 Professora Lucí Laura  Magalhães e ilustração por Josías, aluno do 2°2.

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